Diogo Mainardi contra o Brasil  
  O cronista Diogo Mainardi está em evidência. De acordo com o próprio, esta evidência é mais um sinal da irreversível decadência intelectual do Brasil, que ele vem apontando diariamente. Pois ele é apontado como o novo Paulo Francis, não é? Mas comparado com o original, não passa de uma cópia medíocre... Seja como for, é rara a semana que não ouço falar de mais algum dito sarcástico de sua lavra. O mais recente referia-se à visita de Charles Darwin ao Brasil, nos idos do século XIX. Segundo Diogo Mainardi, o contato com os brasileiros serviu para que o naturalista tivesse certeza de que o homem descende mesmo do macaco.

Modesto, o cronista atribui seu sucesso ao governo Lula, que se constituiu em inesgotável fonte de material para suas críticas mordazes - tal como um filme "trash", que é divertido justamente porque não presta. Mas não tenho dúvidas de que as afirmações de Diogo Mainardi mexem com alguma delicada fibra no interior da alma nacional, como prova a reação histérica de alguns de seus leitores. Curioso, resolvi averiguar o motivo, e dirigi-me à fonte principal de suas diatribes - o romance Contra o Brasil, sátira anti-nacionalista que é na verdade uma coletânea de dezenas de comentários desairosos contra o Brasil e os brasileiros, emitidos por viajantes estrangeiros aqui aportados em diferentes épocas. A leitura deste livro foi-me bastante divertida, e permitiu-me tirar uma conclusão definitiva a respeito do senhor Diogo Mainardi: trata-se, sem sombra de dúvida, de um nacionalista enrustido. Sim, um nacionalista, pois ensinam os psicólogos, o ódio nada mais é que o amor frustrado, e recuso-me a crer que ele teria paciência para coletar todas aquelas citações anti-nacionais feitas por obscuros personagens, se fazer isto não lhe despertasse emoção nenhuma.

E seja reconhecido, Diogo Mainardi capricha naquilo que pode ser considerado um esporte nacional praticado com gosto por todos os brasileiros: malhar o próprio país. E seja também reconhecido, razões para isto não faltam. O problema é que daí não surge nenhum efeito prático. Torna-se uma ladainha, e o malhador costumaz aos poucos reduz-se a um rabugento patético. Mais grave ainda é quando isto é feito no estrangeiro ou na presença de estrangeiros, como citei em minha crônica A Síndrome do Brasileiro Emigrado: o autodesprezo não tem outra conseqüência senão atrair o desprezo alheio. Se a compulsão de malhar o Brasil é inevitável, ela deveria ser, ao menos, controlada.

Fiquei satisfeito ao ler a última crônica de Diogo Mainardi, Carnaval É Só Carnaval. Escreveu ele: "A antropologia arruinou o Brasil. Até hoje os brasileiros são vistos como índios. A velharia descreve o carnaval exatamente como Lévi-Strauss descreveria um rito de puberdade nambiquara". Ao assestar a marreta contra a base mais sólida da Burrice Nacional, a antropologia, Diogo Mainardi cumpre seu papel de bom patriota que é. Bravo!

 

 

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