A Síndrome de Olavo de Carvalho | ||
Acompanhei,
nos meios on-line, a repercussão da recente demissão
do filósofo Olavo de Carvalho do diário O GLOBO. Por meios
on-line entenda-se a internet - mais especificamente os forums
de discussão, onde as opiniões são colocadas em série,
sem muita
reflexão e ao sabor do estado emocional do opinante - o que é
muito interessante, pois desnuda-o de seus dispositivos de
auto-censura e dissimulação, e permite apanhar em flagrante
todas as incongruências e contradições de seu pensamento.
Contradição, no caso, foi comemorar a demissão do
citado
filósofo e articulista. Que ele é a bête noir
da esquerda, o
pior demônio de seu panteão, disto já se sabia há
tempos. Mas O
GLOBO também é amaldiçoado como veículo difusor
da ideologia
alienante da extrema-direita - então, por que Olavo foi
demitido? Afinal, quem ali é "de direita", Olavo ou O
GLOBO?
Comemorar a demissão de Olavo significa reconhecer que o
reacionário O GLOBO, ao contrário do que se afirma, não
está
assim tão alinhado contra as "forças progressistas"
deste país.
Eu pessoalmente sou de opinião de que a demissão de Olavo de Carvalho deveu-se à sua insistência em denunciar as ligações do PT com movimentos terroristas internacionais. Não cabe aqui reiterar ou negar estas acusações, nem tenho embasamento para fazê-lo, mas o fato é que elas não vinham fazendo muito a cabeça dos leitores do jornal. E como toda empresa capitalista vive de agradar seus clientes, O GLOBO procura publicar aquilo que agrada a seu público fiel. Mas o ocorrido permitiu-me observar, mais uma vez, e com riqueza de detalhes, um fenômeno que há tempos eu venho notando nestes forums da internet freqüentados em sua ampla maioria por uma garotada esquerdista, creio que estudantes universitários, a julgar pelo teor das opiniões ali postadas. A falta de um nome para o fenômeno, batizo-o de Síndrome de Olavo de Carvalho. Seus efeitos podem ser observados, por exemplo, no Centro de Mídia Independente. É sempre a mesma coisa. Nem bem surge um post citando o nome maldito - Olavo de Carvalho - uma torrente de respostas aparece em seguida, separadas por não mais que poucos minutos uma da outra. São, invariavelmente, gracinhas obscenas, daquelas do tipo feitas por moleques de 13 anos de idade. Eu acompanho-as com um misto de curiosidade e repugnância, e noto que ninguém - absolutamente ninguém - sequer tenta refutar a argumentação atribuída ao filósofo no post original. Não exibem nem mesmo aqueles argumentos primários e dogmáticos que costumam brandir quando surge no forum opinião de idêntico teor, mas assinada por qualquer um que não seja o maldito. Nada, absolutamente nada, só retardatices. Chega a ser constrangedor. Trata-se, claramente, de uma reação de pânico; a simples menção do nome Olavo de Carvalho tem o poder de provocar curto-circuito na mente do esquerdista. Nenhum outro intelectual ou polemista tem igual poder. Qual seria o segredo deste cidadão? Bem, um atributo que assiste a um único indivíduo deve ser também o produto de características únicas. E lendo os textos de Olavo, eu percebo um traço que jamais observei, com igual intensidade, em outros pensadores ditos de direita - refiro-me a uma familiaridade que Olavo tem com os dogmas marxistas, tão profunda que não é exagero afirmar que ele compreende o marxismo ainda melhor que os sexagenários estudiosos de Marx. E justamente por compreender esta doutrina, ele sabe exatamente os pontos onde se encontram, cuidadosamente escamoteados, suas mistificações, seus sofismas, sua manipulação de fatos históricos. Olavo, por assim dizer, não demole o marxismo; ele o desmonta, peça por peça. E o faz com uma paciência que beira o sado-masoquismo. Enfim, ele comete a pior crueldade que se pode cometer contra um intelectual: demonstra, de modo irrefutável, a falsidade de suas teorias. A teoria é o brinquedo do intelectual. Daí se compreende a reação da garotada dos forums: é a mesma reação de crianças de quem se tomou o brinquedo. |
Início |