Minha "paixão" pelo capitalismo

 
 

Repetidas vezes tenho sido interpelado a respeito de uma suposta paixão que eu teria pelo capitalismo, suposição esta fundamentada no fato de que eu estou sempre a defende-lo. Tendo sempre que repetir os mesmos argumentos, aproveito esta oportunidade para coloca-los por escrito e disponibiliza-los em uma página na internet onde todos podem lê-los, e verei se assim me dão um pouco de sossego.

O caso é que eu não tenho paixão alguma pelo capitalismo. Meu apego ao capitalismo é o mesmo apego que Winston Churchill tinha pela democracia, que ele afirmava ser "o pior dos regimes, excetuando-se todos os outros". Pois do capitalismo digo a mesma coisa: é o pior dos sistemas econômicos. Excetuando-se todos os outros...

Apontam-me nosso desastroso quadro social, e perguntam-me como posso defender um regime que produziu tamanha miséria e disparidade de renda. Nesta afirmativa há duas falsidades: nem o regime brasileiro é capitalista, nem foi o capitalismo que introduziu no mundo a miséria e a desigualdade. Quem pode afirmar que o Brasil é capitalista se aqui nada funciona como no mundo desenvolvido? Lá, aumenta-se as taxas de juros e a inflação cai. Aqui, aumenta-se as taxas de juros e a inflação sobe. Não sou economista, mas sei de uma experiência simples que volta é meia é repetida em escolas. Tome duas caixas-pretas, iguais por fora, com botões de um lado e luzes coloridas do outro. Se, ao apertar os mesmos botões numa e noutra faz acender luzes diferentes em cada uma delas, pode-se concluir que o mecanismo que elas contém não é igual. Minha escolha pelo capitalismo vem tão-somente da observação do mundo atual: os países mais prósperos, e ao mesmo tempo os mais igualitários, são justamente aqueles onde o capitalismo é mais antigo. O regime que temos, quer se chame pré-capitalismo, capitalismo selvagem ou neo-mercantilismo, notoriamente não é um capitalismo desenvolvido em toda a sua plenitude. Já a sua contrapartida - o socialismo - foi, sim, experimentado em toda a sua plenitude em vários lugares do mundo, e fracassou em toda a sua plenitude em todos os lugares onde foi experimentado. Como se vê, não nos resta muita escolha.

Embora os dados que me levaram a esta conclusão estejam aí, à vista de todos, a acachapante maioria dos brasileiros obstina-se em ignora-los. Segundo o ex-frei Leonardo Boff, o capitalismo é um regime perverso, "gerador de opressão, eventualmente desdobrando-se em repressão". Mas a simples idéia de que um sistema econômico possa receber um adjetivo como "perverso" parece-me absurda. É como se alguém viesse dizer-me que o Sistema Operacional Windows XP é ganancioso, ou que o Padrão VHS é vaidoso. Sistemas não tem qualidades morais humanas, sistemas funcionam ou não funcionam. Apenas indivíduos tem qualidades morais boas ou más, e se todos os indivíduos de uma certa comunidade pensam e agem conforme um determinado padrão, a qualidade moral que se aplica ao indivíduo pode ser creditada à comunidade, no coletivo. Mas a recíproca, contudo, não é verdadeira. Um poder coercitivo pode proibir que indivíduos façam determinadas coisas, e mediante uma dura repressão pode efetivamente impedir que estas coisas proibidas sejam feitas. Mas não pode obrigar os cidadãos, no íntimo, a deixar de desejar aquilo que foi proibido. Estudos demonstram que os norte-americanos nunca beberam tanto quanto durante os 12 anos de vigência da Lei Seca. Haja visto que setenta anos de comunismo não tiraram dos russos o gosto pelo capitalismo. O caso é que a conduta moral de uma sociedade inteira só pode ser reformada se for reformada a moral individual de cidadão a cidadão, e isto só é conseguido muito lentamente, mediante a ação de filósofos, educadores, e sobretudo, de religiosos. Refiro-me, é claro, a religiosos verdadeiros, cuja mensagem dirige-se a indivíduos, e não a líderes messiânicos, cuja ambição é tiranizar a comunidade.

Se os sistemas não são intrinsecamente maus, por outro lado, admitamos, há determinados sistemas que só poderiam ter sido urdidos por gente especialmente perversa. Refiro-me, entre outros, ao comunismo, que matou (em geral de fome) milhões e milhões de pessoas no mundo todo. Há quem aponte o alto índice de desnutrição e mortalidade do terceiro mundo, e veja nisso prova de que o capitalismo também mata aos milhões. Mas desde quando foi o capitalismo que introduziu a miséria no mundo? Ela já existia nos sistemas econômicos anteriores - o mercantilismo, o feudalismo, a escravidão, até na vida comunal das primeiras comunidades neolíticas. A miséria apenas mudou de feição, tornando-se mais urbana no bojo da Revolução Industrial, fenômeno que está associado ao surgimento do capitalismo. A miséria urbana é mais visível, ao contrário da miséria rural, que fica escondida nos campos. A miséria urbana está sob as vistas de pessoas cultas, educadas e sensíveis, que podem se indignar e escrever libelos contra ela. A miséria rural fica sob as vistas de pessoas que, geração após geração, se acostumaram a vê-la como um fato natural da vida. Daí a impressão, freqüentemente reiterada, de que a Revolução Industrial multiplicou a miséria e fez nascer uma classe de desgraçados infelizes chamada proletariado. Mas foi justamente por juntar uma grande quantidade de trabalhadores no espaço exíguo de uma única unidade produtiva - a fábrica - que esta nova ordem econômica permitiu que os trabalhadores se unissem e expusessem suas reivindicações de forma coletiva e organizada. Operários situados em um mesmo galpão, executando as mesmas tarefas repetitivas, puderam pela primeira vez experimentar a consciência de que pertenciam todos a uma mesma classe. Assim, a livre organização dos trabalhadores em sindicatos, o direito de greve, as leis trabalhistas, tudo isso surgiu junto com o capitalismo. Nada disso existia no mundo anterior pré-capitalista, e tudo isso deixou de existir nos locais onde o capitalismo foi suprimido. Por conseguinte, não há nada mais contraditório, ou mesmo ridículo, do que um líder sindical que se proclame contrário ao sistema capitalista, sistema que deu condições para que ele existisse. Este tipo de coisa só pode acontecer em países como o Brasil, onde as pessoas não fazem a menor idéia do que é capitalismo.

Quem inventou o capitalismo? Quem inventou o comunismo? Os inventores deste último são conhecidos: um grupo de filósofos, que conceberam este sistema econômico a partir de suas elucubrações, e procuraram difundi-lo junto a trabalhadores que não tinham tempo nem cultura para filosofar. Esses filósofos eram, em geral, cidadãos de respeitável origem burguesa ou pequeno-burguesa, que jamais haviam sentido na própria pele as agruras de uma existência proletária, o que permite concluir que o alegado desejo que expressavam de melhorar a vida dos trabalhadores não era genuíno posto que não provinha de um trauma ou qualquer sensação física. Eles propagaram o comunismo simplesmente porque era uma idéia que os agradava, e que julgavam, cabia à massa aceitar este destino. No povo, viam apenas uma massa, onde não distinguiam indivíduos, muito menos direitos individuais. Já o capitalismo não tem inventores conhecidos. Surgiu espontânea e gradualmente. Ao contrário do que se pensa, as práticas capitalistas nunca foram exclusividade de mercadores e banqueiros. O homem do povo também podia emprestar um galão de aveia ao vizinho, ou fazer escambo de carneiros por cabras. Então, se o capitalismo é maligno, devemos concluir que boa parte da humanidade é maligna, e aquele que condena o capitalismo, ou está sendo hipócrita, ou deveria fazer um voto de pobreza e recolher-se voluntariamente a um convento. Coisa que, evidentemente, não está nos planos dos socialistas tupiniquins.

 

 

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