A "Nordestinização" do PT  
 

Conhecidos os resultados da última eleição, observa-se um quadro que pode ter sido surpreendente para alguns, mas que não passa de dejà-vu para outros que ainda mantém uma memória histórica superior aos oito anos que, dizem, é o tempo médio da memória histórica do brasileiro: o PT perdeu em importantes redutos sulistas, onde parecia estar solidamente estabelecido, mas em contrapartida manteve-se no nordeste, região conservadora e de poucas centrais sindicais, que nos primórdios do PT, foi refratária ao seu discurso, e de fato, foi a última região do país onde os petistas conseguiram estabelecer-se. Claramente o PT está em processo de "nordestinização", fenômeno que ocorre pela terceira vez em nossa história: antes já havia acometido a dois importantes partidos políticos nacionais, em duas épocas de transição política, e em ambos os casos, produziu idênticas conseqüências para o partido "nordestinizado".

Este termo foi cunhado pelo falecido Ulysses Guimarães, após as eleições de 1982, coroamento da "abertura", e que assinalaram o ressurgimento do interesse do povo pela política partidária após o monocromático bipartidarismo do regime dos generais. Abertas as urnas, via-se claramente que o mapa político do país havia sido redesenhado. O PMDB obtivera vitórias em importantes centros econômicos do país, notadamente do sul-sudeste, mas também no Amazonas e no Pará. A ARENA, rebatizada PDS, clamou haver vencido em um número superior de estados. Mas eram quase todos estados nordestinos de pouca importância econômica, o que provocou o dito irônico de Ulysses: "O PDS transformou-se em um partido nordestino". Pouco depois, Tancredo Neves arrebatava o Colégio Eleitoral, e o PDS foi para o cemitério das legendas.

Mas em nenhuma outra ocasião o fenômeno foi tão marcante quanto nas eleições de 1986, época do "Plano Cruzado". Com os preços congelados, o PMDB governista venceu em quase todos os estados, obtendo no nordeste as vitórias mais consagradoras, e foi a vez de Ulysses engolir a denominação irônica de "arenão" que foi imputada a seu partido. Pouco depois os preços eram liberados, a inflação explodiu, e junto com ela a aliança conhecida como a Frente Liberal, que governava o país desde o início da "nova república". O caminho estava aberto para Collor e Lula; nas eleições de 1991 o desempenho de Ulysses foi pífio, e nesta campanha o veterano candidato seria mais lembrado pelo slogan ironizante: "bote fé no velhinho"...

Enfim, os augúrios não são nada bons para o PT neste pós-eleição de 2004. Como se viu, ao fenômeno da nordestinização se segue, invariavelmente, a derrota fragorosa e a liquidação política. É uma espécie de maldição. Mas para não lançar uma pecha injusta sobre os nordestinos, cumpre desvendar por que motivo isso acontece. A explicação é simples, e não tem nada a ver com o maracatu, o forró, ou o jabá com jerimum. A opção do eleitor nordestino pelo PT neste ano de 2004, assim como a rejeição que este mesmo eleitor tinha para com o PT vinte anos atrás, em verdade não denota nenhuma tomada de posição ideológica, mas antes é um impulso característico do eleitor pobre que almeja o favor das autoridades. Este tipo de gente pauta pelo imediatismo, e apenas o partido situacionista, que já tem em seu poder a máquina assistencialista do Estado, é capaz, no curto prazo, de entregar os presentes que este eleitor deseja receber. Esta gente não quer saber se o partido é de direita ou de esquerda, liberal ou conservador. Quer arroz na panela. Depender deste tipo de eleitor significa que se chegou ao fim da linha, e que o poder só é mantido a preço da satisfação de necessidades fisiológicas na mais estrita acepção do termo. Mesmo no Brasil, tal situação é insustentável: a nordestinização é o prelúdio da queda.

Realmente não acredito em um segundo governo petista, a menos que este partido passe por uma considerável mutação. Talvez até consiga, pois mutações estão se tornando a especialidade do PT. Tenho a dizer, contudo, que estou satisfeito com Lula. Dentro das circunstâncias, ele tem se saído até muito bem. O que dizer de um líder popular que ao cabo de vários pleitos chega ao poder tendo sobre si depositadas as esperanças de milhões de cidadãos, e constata que todos aqueles projetos que faziam sucesso quando o PT era oposição são simplesmente inexeqüíveis? Uma pessoa menos responsável poderia capitalizar a frustração coletiva e lançar o país em uma grave crise, semelhante à que se seguiu à renúncia de Jânio Quadros, mas Lula não fez isso. Seu governo sustenta-se na embromação: nem cumpre as promessas de campanha, nem as renega formalmente. E vai empurrando com a barriga, enquanto aumenta a folha de pagamento com mais um ou outro cargo comissionado para os petistas, e prepara a permanência do partido no poder pelo mais longo período possível, que talvez não seja muito longo.

Enquanto isso, podemos sentir com clareza o quanto é ilusória a dança das siglas que se sucedem em Brasília. Seja seu programa de governo este ou aquele, todas cumprem um ciclo de vida semelhante. Só haverá mudança no dia em que o povo se conscientizar de que o governo não é a solução, mas sim o problema.

 

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