O Marketing do MST  
 

"O porque de os europeus terem amores pelo MST não é de difícil compreensão. Não se trata de desconhecerem os verdadeiros propósitos da entidade, ainda que nós brasileiros saibamos melhor o deboche às instituições da república que os desocupados do movimento promovem. O MST é, segundo brilhante definição de Pedro Mundim, um extremamente bem-sucedido produto de marketing. Soube vender tão bem sua imagem aos europeus que estes a adquirem com a mesma voracidade que compram fitinhas do Senhor do Bonfim, acarajés e berimbaus artesanais. O MST é, para os europeus, o que há de melhor no Brasil"

Havendo eu sido citado por Lindolpho Cademartori em seu ótimo artigo Os Bons Selvagens do MST, publicado no Mídia Sem Máscara, sinto-me na obrigação de colocar por escrito a polêmica que serviu de mote ao autor, originalmente desenvolvida no site Mídia Independente.

Que o MST está em evidência, isto pode ser constatado por qualquer um que leia jornais. Parece a seleção brasileira em véspera de Copa do Mundo. Como não podia deixar de ser, causa enorme celeuma, mas via de regra a opinião pública lhe tem sido favorável, ou ao menos neutra. Não surpreende: como bem destacou o sr. Lindolpho, o MST é POP. O que não fica bem claro é a fórmula que conduziu a tanta popularidade.

Bem, qualquer um sabe que temos uma distribuição de renda horripilante, um acentuado êxodo rural, muitos miseráveis e desocupados. Qualquer abordagem simplista vê uma reforma agrária como o remédio indicado para este estado de coisas, e de fato, a reforma agrária já foi usada por outros países no passado, às vezes com sucesso, outras vezes nem tanto. Mas o MST tem um carisma especial, que não passa desapercebido. Parece - e é - algo mais que um movimento em prol da reforma agrária. Eu, pessoalmente, não gosto do MST, e considero-o um perigo para o país, pelos motivos que vou expor em seguida. O que é, afinal, o MST, e o que ele pretende?

O primeiro passo é defini-lo corretamente. Eu concordo que taxa-lo de "Organização Terrorista" é um pouco forte, e até reconheço que, em matéria de violência, o MST tem sofrido mais do que infligido (ao menos até o presente momento). Mas o real motivo por que eu considero o MST nocivo é que, como proposta social e econômica, ele é uma farsa. Farsa como proposta social, pois seu objetivo não é promover uma reforma agrária, mas sim estabelecer "kholkozes" onde o regime de propriedade privada seja substituído pela posse comunal; farsa como proposta econômica, pois construir um país de camponeses em pleno século XXI é, no mínimo, um anacronismo ridículo, posto que todas as reformas agrárias bem sucedidas foram feitas há mais de 50 anos atrás.

Que os propósitos do MST são puramente políticos, isto nem eles mais se dão ao trabalho de disfarçar. Outro dia mesmo recebi um e-mail dando conta de uma grande festa comemorativa do aniversário do movimento. Vieram muitas fotos coloridas do regabofe. Bonés e bandeiras a granel. No centro, uma mulher de véu segurando uma bandeira da Palestina. Fiquei sem saber se os líderes do MST resolveram que agora vão invadir terras em Israel, ou se serão os palestinos que virão para cá se tornar posseiros, pois ninguém se deu ao trabalho de explicar o que Palestina tem a ver com reforma agrária. Muitos sorrisos, muitas crianças. Atrás da muvuca, o campo. Nenhuma plantação, sequer um roçadinho de milho ou mandioca. Mais atrás, o edifício de uma fábrica (será que estavam mesmo no campo?). Cadê as enxadas? As foices? Nada. Cadê as máquinas? Nenhuma. Cadê os silos? Não vi. Onde as caixas cheias de laranja? Nem caixa, nem laranja. A única coisa que vi ser plantada foi uma árvore ornamental, de valor simbólico, cuja muda foi enterrada no solo por duas crianças de aspecto saudável, diante dos fotógrafos. Fizeram um churrasco monumental, mesmo sem boi nenhum no pasto. Quem pagou aquilo tudo? Ora, é para isso que servem as ONG's estrangeiras e o contribuinte brasileiro.

Economicamente, é notória a inviabilidade da agricultura familiar nos dias de hoje. Isso funcionava no oeste norte-americano do século XIX, mas hoje em dia, o percentual da população que habita o campo é de cerca de 5%, em média, nos países de Primeiro Mundo. No Brasil, a população urbana superou a rural em 1970, fechou o século em torno de 80%, e segue aumentando. Não há mais o que fazer no campo: se é verdade que o agronegócio gera poucos empregos e paga baixos salários, tampouco os assentamentos têm sido um sucesso. Pouquíssimos assentamentos são produtivos, e a grande maioria deles sobrevive da agricultura de subsistência e das doações de pessoas interessadas em manter esta situação. A agricultura familiar só é viável em se tratando de uma pequena gama de produtos, como frutas e flores ornamentais, que tem alto valor e custo de produção compatível com o orçamento de uma família simples, mas que, em contrapartida, tem um mercado pequeno e muito disputado (sempre o Mercado!) A grande maioria dos alimentos que consumimos é cultivada em grandes propriedades (no Brasil ou no exterior) porque trata-se de itens de baixo valor por hectare e alto custo de produção, beneficiamento e estocagem, que só dão lucro se produzidos em escala muito larga.

Sendo tão notórias a má-fé e a inviabilidade das propostas do MST, por que motivo ele faz tanto sucesso? O mesmo motivo que faz com que adquiramos uma coisa que não tem serventia mas que está na moda: o marketing. O MST é um extremamente bem-sucedido produto de marketing, aqui e no exterior. Seus líderes conseguiram emitir uma mensagem que toca muitos corações: a miragem do Brasil Rural. As ONG's estrangeiras enchem os cofres da entidade porque o MST encarna, para elas, a vocação natural de um país que o europeu médio imagina como essencialmente rural, famélico, coberto de florestas e habitado por índios e camponeses. É certo que os líderes destas ONG's não são nada tolos, mas o europeu típico efetivamente alimenta esta imagem simplória: para eles, o Brasil é assim, e se não é, devia ser. Não que eles sejam contra o agronegócio (exceto por alguns ambientalistas fanáticos) mas vêem-no como algo que deve ser exclusivo deles, do Primeiro Mundo, posto que contradiz o papel que, na opinião deles, deve caber ao Brasil: manter um modo de vida e um modo de produção "ecologicamente correto"; preservar florestas, colher a seiva das seringueiras, praticar uma agricultura artesanal em pequena escala, e dar-se por muito satisfeito: afinal, eles "passam fome", de que mais necessitam que uma roça no quintal?

Esta visão cinicamente idílica da vida no campo é compartilhada por muitos brasileiros, e há um motivo para isso: somos um país de urbanização recente, onde a cena do campo ainda está muito marcada na memória coletiva. Basta ver a abundância de novelas que tem como tema o universo rural. O campo, também, encarna uma fantasia muito renitente na visão dos intelectuais revolucionários dos anos sessenta: é no campo que se encontraria o cerne da sociedade e a verdadeira riqueza do país. A guerrilha urbana tinha como objetivo meramente arrecadar fundos para a guerrilha rural, a única efetivamente capaz de "libertar" o país; o campo é o nascedouro da revolução e o verdadeiro lar do revolucionário. Para os padres militantes da Comissão Pastoral da Terra, também oriundos desta época, a vida no campo encarna uma sociedade frugal e igualitária, bem bíblica, algo como o Arraial de Canudos, reduto de fanáticos religiosos que a imaginação dos intelectuais transformou em rebeldes socialistas. Entretanto, se há alguém que decididamente não gosta do campo, é o ex-camponês, a julgar pela quantidade com que eles têm afluído às grandes cidades nas últimas décadas. Ao contrário dos intelectuais universitários, esses indivíduos sabem muito bem como é a vida "lá na roça". O País Rural não vai voltar, ele pertence às novelas da Globo. Ser um país predominantemente urbano não é escolha nossa, é uma tendência global e irrefreável. É certo que, ano passado, o desempenho da indústria foi tão ruim que, pela primeira vez em décadas, o percentual do setor agrícola de nossa economia cresceu em relação ao setor manufatureiro. Mas ninguém em sã consciência acredita que voltaremos a ser uma economia predominantemente agrícola. Podemos ser um país de cena urbana caótica e indústria pouco competitiva - mas nosso futuro é inequivocamente urbano e industrial. O único caso que a história registra de ruralização em massa de uma população urbana ocorreu no Camboja, durante o regime de Pol Pot, e deixou um saldo de 1/3 da população morta. Ruralizar uma população urbana de forma inócua é tão possível quanto desenroscar a cabeça do pescoço.

Irônicamente, existe em nossa história um exemplo de reforma agrária bem-sucedida e agricultura familiar produtiva. Foi a colonização do sul do país por imigrantes europeus, que receberam pequenos lotes e constituíram as primeiras comunidades de pequenos produtores em um país que, até então, só conhecia o grande latifúndio. Cem anos depois, estes granjeiros abastecem a próspera indústria alimentícia da região. Este exemplo de sucesso bem poderia ser citado pelo MST como um forte argumento em favor de uma reforma agrária mais ampla. Mas não é. Muito pelo contrário, a saga dos colonizadores é varrida para debaixo do tapete, como se nunca houvesse existido. O motivo é simples: trata-se de um odioso exemplo de uma reforma agrária feita dentro das normas do capitalismo, sem expropriações, e que surtiu o efeito de implantar o regime de propriedade privada, ao invés de aboli-lo. Suprema abominação, os colonos converteram-se em pequenos burgueses, ao invés de revolucionários! Hoje o sul é a região do país onde a agricultura é mais produtiva, e onde há menos latifúndios. É também a região onde o MST está mais presente. Ao que parece, o MST gosta de terras valorizadas...

O MST é um dente-de-leite que o Brasil tem que arrancar se quiser crescer.

 

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