A Inutilidade da Educação | ||
Os maus resultados da educação do Brasil levantam dúvidas sobre a utilidade desta educação. Este vídeo procura apontar os motivos de seu fracasso, e menciona a adoção do sistema de Progressão Continuada, também chamado Aprovação Automártica. Sob este método não há exames de avaliação anual, e o aluno só pode ser reprovado ao final do ciclo, de acordo com critérios subjetivos. A Progressão Continuada não é, em sua concepção, uma fraude: baseia-se no princípio de que, uma vez que os alunos são diferentes uns dos outros, não deveriam ser avaliados pela mesma régua. Portanto, trata-se de um sistema adequado a escolas que dispõem de amplos recursos, suficientes para dar um acompanhamento personalizado a cada aluno. A Progressão Continuada é usada em diversas escolas de países desenvolvidos, embora com resultados controversos. Como a escola pública brasileira passa longe desse perfil, é evidente que a adoção de tal método aqui teve como objetivo tão somente camuflar sua própria incompetência: aprenda ou não,o aluno é aprovado, e belas estatísticas de aprovação podem ser exibidas às autoridades. Mas antes deste subterfúgio ser inventado, a educação brasileira já ia mal. Qual a causa raiz? Podem ser citadas numerosas razões, da precariedade material a Paulo Freire, mas eu prefiro sintetizar em poucas palavras: a opção por uma educação massificada. A quantidade tendo prioridade sobre a qualidade. Se o estudante tem dificuldade de assimilar o conteúdo, simplifique-se o conteúdo. Se o estudante não sabe a gramática, venda-se a ideia de que a escrita errada é um dialeto tão digno de respeito quanto a norma culta. Se não há professores, ou eles não querem dar aula, passem-se trabalhos aos estudantes para que eles aprendam por si mesmos. Basicamente, o objetivo é aumentar o número de formados na escola sem aumentar as dotações orçamentárias da educação. A Progressão Continuada é apenas a cereja deste bolo. Mas e a base do bolo? Para responder, é preciso entender o que é, de fato, educação. E digo logo: a educação, como a conhecemos pelo senso comum, é uma inutilidade. Sim, pois praticamente tudo o que aprendemos na escola será esquecido na vida futura, a menos que tenha uma utilidade prática. E isso é válido tanto para o bom, quanto para o mau aluno: é preciso conhecer a matéria na hora da prova, mas se ela não tiver utilidade no futuro, não faz sentido reter aquele conhecimento. O que não significa que a escola não prepare para a vida. Prepara, sim, mas não em razão do conhecimento ministrado. A escola ensina o convívio social, a disciplina e o desenvolvimento das faculdades cognitivas. É neste ponto que abandonamos o senso comum e atingimos a relação profunda entre educação e cultura. A cultura diz respeito às crenças, valores e princípios que norteiam todo o comportamento humano. A educação formal é apenas uma parte desse todo, pois o restante não se aprende na escola, e sim na vida. Penso haver chegado na resposta definitiva à questão formulada: uma educação massificada, que aprova automáticamente, incute na população uma cultura de desprezo pela própria educação. De fato, que respeito o aluno pode ter por uma escola que aprova automáticamente? Se nenhuma cobrança é feita quanto àquele conteúdo ministrado, a única conclusão a que o aluno pode chegar é que aquilo não vale nada - se valesse, haveria cobrança. Se a escola despreza o aluno, então o aluno despreza a escola, e por uma reação em cadeia, despreza todos os valores calcados na escola, como o progresso sócio-econômico advindo da aquisição de conhecimentos, e a própria ciência, o que vem a explicar o embaraçoso fenômeno do emburrecimento do Brasil. Como é que, do ponto de vista das estatíticas, o Brasil tem muito mais letrados do que tinha 50 anos atrás, mas 50 anos atrás produzia letrados tão superiores aos atuais? No limite, essa cadeia de transmissão originadada de uma cultura de desprezo pela educação tangencia com a criminalidade, que tem aumentado enormemente no país por causa de uma opção análoga à feita para a educação: as penalidades são brandas com o objetivo de diminuir a população carcerária, e tornar desnecessário aumentar os gastos com segurança. Duas mágicas, uma para aumentar artificialmente o número de alunos na escola, outra para diminuir artificialmente o número de apenados na prisão. Assim os dois fenômenos, educação ruim e crime alto, se tocam e se complementam. Do ponto de vista ideológico, esse estado de coisas é apoiado pelas doutrinas de Paulo Freire: o ensino pode estar ruim, mas isso não é o mais importante, já que o objetivo da escola não é ministrar conhecimentos, mas sim "formar cidadãos". O ensino não deve ser ministrado de forma bancária, porque o aluno sabe tanto quanto o professor. A reprovação é um ato de opressão da classe superior sobre o oprimido, pois os alunos não são bons ou maus, apenas diferentes. A educaçao não deve ser vista como uma forma de ascenção social, pois assim o oprimido vai se tornar opressor. Paulo Freire não é responsável pelas falhas da educação brasileira, mas é responsável por justificá-las mediante argumentos capciosos. Se o desprezo pela educação tornou-se parte da cultira nacional, não se pode erradicá-lo com programas do Ministério da Educação. Não se pode legislar sobre cultura. O apreço do povo pela educação só pode ser restaurado se a escola novamente se der ao respeito. |
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