A Eclosão do Fascismo  
  A revolta patrocinada pelo crime organizado em São Paulo, no mês passado, além de expor a todos o nível de organização da bandidagem e o despreparo das autoridades, produziu uma conseqüência verdadeiramente espetacular: a primeira passeata de direitistas dos últimos 42 anos, desde as reacionárias Marchas com Deus de 1964. Tive dificuldade em achar fotos do evento, que não foi noticiado pela mídia impressa, mas como na internet se acha tudo, lá estava ela. Passei os olhos pelas fotos com a curiosidade de quem contempla um fenômeno raro. Alguns tinham cara de simples e honestos cidadãos classe média, como eu. Mas havia abundância de símbolos integralistas - o Sigma - bem como jovens de ar agressivo, vestidos com roupas de gangues. Nos cartazes, os usuais xingamentos ao "Luladrão", mas também palavras-de-ordem em defesa do "patrimônio nacional", leia-se empresas estatais, das quais discordo totalmente. Confesso que fiquei meio sem saber se me identificava ou não com aquele povo. Mas outros que viram aquilo ficaram horrorizados. É o fascismo que está mostrando a cara!

O medo deste pessoal é o medo do desconhecido, pois de fato, há muito o fascismo não dá as caras por aqui. Nossas últimas referências remontam ao integralismo da década de 30. Tão ausente ficou o fascismo de nossa realidade, que se desmaterializou e tornou-se uma criatura etérea, de contorno vagos, uma carapuça boa de se enfiar na cabeça dos inimigos. Fascista virou sinônimo de reacionário, de truculento, ou de qualquer um que não concorde com as teses da esquerda, que tampouco gosta de ser chamada de comunista. O sentido original da palavra esvaziou-se, e resgata-lo é meio como o trabalho de um arqueólogo, posto que exige a remoção de camada após camada de entulho, até se atingir o extrato original em que o termo foi cunhado. Afinal, o que é o fascismo? Como ele apareceu? Pertence ao passado, ou pode ainda voltar?

Tomemos o livro de História. O fascismo surgiu no início do século XX, mais precisamente na Itália, em 1925. Era a denominação do partido chefiado por Benito Mussolini. Foi seguido pelo franquismo na Espanha e pelo salazarismo em Portugal. Outros países da Europa, como a Hungria, a Grécia e a Polônia, bem como o Japão, também tiveram regimes de inspiração fascista. Na América Latina, onde em política nada se cria e tudo se copia, beberam desta fonte Getúlio Vargas em 1937 e Juan Perón dez anos depois. O regime caiu em desgraça após o final da segunda guerra, o que não impediu que o franquismo espanhol e o salazarismo português fossem especialmente longevos, e que alguns regimes filo-fascistas ainda espocassem aqui e ali. Já outros países atravessaram todos estes anos sem manifestar a mínima tendência pró-fascista. E ponto.

Tentado compreender o fenômeno, eu pergunto o que tinham em comum estes países no momento em que adotaram regimes fascistas. Respondo: eles viviam uma fase de grande agitação política, onde a extremidade oposta à direita fascista - a esquerda comunista - parecia estar em vias de conquistar o poder. Fica flagrante, aí, um dispositivo ação X reação. O fascismo estaria para o comunismo, assim como a febre está para a doença. Esta afirmação faz sentido. Verificando-se o universo simbólico do fascismo, nota-se que ele é bastante simplório: consiste de apelos a determinados valores bem elementares e disseminados, como a pátria, a ordem, a família, a religião, o folclore, a raça. Vemos aí a reação típica daquele cidadão comum que, assustado com a agressividade do discurso das esquerdas, que ameaçam mudar tudo de ponta a ponta, volta-se para seus valores mais caros e suas crenças mais arraigadas, assim como a criança que corre para o colo da mãe. Fascismo é isto. Onde há comunismo, há fascismo. Nos países onde o liberalismo é amplamente aceito e o comunismo não tem espaço, como a Inglaterra e os EUA, tampouco o fascismo fez carreira.

É importante, contudo, não confundir fascismo com nazismo. Hoje em dia os dois termos são quase sinônimos, como produto do contínuo esvaziamento do sentido original destas palavras, que passaram de substantivos a adjetivos, com a finalidade de denotar toda a malignidade das direitas. Nos primórdios, porém, nazismo e fascismo nada tinham a ver. Nazismo vem da contração dos termos nacional-socialista - sua origem, portanto, é de esquerda, ao contrário do fascismo. O Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP) foi fundado logo após o fim da primeira guerra, e congregava agitadores socialistas. Precisamente por este motivo, o ex-cabo Adolf Hitler, então trabalhando como agente da polícia política, foi designado para infiltrar-se nele. O resto da história todos sabem. Hitler empolgou-se com as idéias que eram ali defendidas, e acabou por ser conduzido à liderança. É certo que Hitler perverteu consideravelmente o ideário original do partido, e que, com certeza, ele não pode ser considerado um socialista. Mas nunca deixou de ser um POPULISTA, ou seja, um líder cuja base de apoio se encontra nas massas e não nas elites. Como indivíduo, Hitler era profundamente plebeu, grosseiro e ignorante. Desprezado pelos aristocratas, que referiam-se a ele como "o cabo Adolf", Hitler retribuía o desprezo, considerando-os culpados pela derrota de 1918. A burguesia alemã, temerosa do comunismo, apoiou sua subida ao poder, mas em troca Hitler submeteu-a a um regime de terror, e qualquer figurão podia ir parar atrás das grades se desagradasse minimamente o fuehrer. Possuir a carteirinha do partido era imprescindível para estes homens, fato que foi bem destacado no memorável "A Lista de Schindler". Enfim, estes burgueses estavam autorizados a usufruir do conforto proporcionado por suas riquezas, mas na prática já não tinham autoridade para gerir seus negócios, que deveriam submeter-se aos ditames da política econômica do governo. Situação de todo análoga ao que se passava na ex-União Soviética, onde a burguesia foi abolida, e para ocupar o seu lugar foi criada uma casta de dirigentes que estavam autorizados a usufruir dos confortos e privilégios originados dos cargos que ocupavam, embora não fossem proprietários das empresas que administravam.

As aparências enganam.

 

 

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