A Cultura e a Riqueza das Nações
 
 

Uma assertiva instigante (e eventualmente irritante), que volta e meia aparece tanto em crônicas despretensiosas quanto em ensaios ambiciosos, é aquela que diz que a causa profunda da riqueza (ou da pobreza) das nações encontra-se na cultura da população. A cultura poderia favorecer ou não a prosperidade; a abastança seria, então, o produto de uma determinada atitude da parte do povo em geral. Isto é pura dinamite. Dificilmente alguém concordaria que sua cultura predispõe à preguiça e à ineficiência; a pressuposição de que uma cultura seja superior à outra parece preconceituosa, alguns diriam até racista. E a pergunta permanece irrespondida: qual é, afinal, o motivo de uns serem ricos e outros serem pobres?

Dizer que as causas são "muitas" seria redundante. Na verdade, nada está mais distante de ser explicado do que quando as causas alegadas são numerosas. Pois, se para produzir um dado efeito, é necessário somar uma profusão de causas distintas e não relacionadas entre si, então a contribuição individual de cada uma destas causas deve ser coisa tão ínfima, que é inevitável especular se ela é significativa, ou se o agente causal do fenômeno que tentamos explicar não seria, em realidade, algo completamente diferente. Qual seria o verdadeiro papel da cultura do povo na produção de riqueza? É agente determinante ou pequeno fator marginal?

Na era tecnológica em que vivemos, é óbvio que o alto grau de instrução das populações dos países ricos é a verdadeira causa de sua riqueza: crianças bem educadas tornam-se técnicos e administradores competentes. Há aqui uma relação entre cultura e riqueza, mas isso não responde à pergunta formulada, pois se está colocando o carro na frente dos bois: as pessoas têm boa escolaridade porque, antes, alguém construiu as escolas e os institutos de pesquisa, e deu-lhes condições para que pudessem se dedicar ao estudo ao invés de ter que ganhar a vida trabalhando precocemente. Ademais, a bagagem de conhecimentos adquiridos na educação formal constitui apenas um dos aspectos da cultura, termo que, em seu sentido mais amplo, designa todo um sistema de crenças, valores e costumes, praticados não por um indivíduo, mas por toda uma comunidade. É possível que haja alguma relação entre os valores morais abstratos e os prosaicos hábitos do dia-a-dia praticados por uma geração que viveu 500 anos atrás, e a atual situação de abastança da geração presente de um país rico? Difícil provar. Há também algo de desapontador em se creditar tanto poder à massa de cidadãos anônimos. A maioria das pessoas gosta de imaginar que a glória das nações provém de heróis que surgiram em momentos cruciais da história e conduziram seus países em direção à liberdade, ao poder e à prosperidade - ou pelo menos é assim que o assunto é tratado na maioria dos compêndios de história. A discussão é antiga. Uma corrente afirma que são os heróis que fazem a história, outra corrente afirma que a história é que faz os heróis. Segundo os primeiros, se Napoleão Bonaparte fosse alguns centímetros mais altos, não teria necessidade de compensar seu complexo de inferioridade, e ao invés de imperador teria sido um pacato oficial de província. Os segundos afirmam que na verdade pouco importa quem houvesse tomado o poder na França daquela época, pois ele teria sido forçado, pelas circunstâncias, a fazer mais ou menos o mesmo que Napoleão fez.

Aplicando essas hipóteses a um horizonte de vários séculos sucessivos, poderíamos afirmar que as nações hoje bem-sucedidas foram aquelas que, no passado, tiveram a sorte de ter líderes que tomaram as decisões corretas, generais que ganharam as batalhas? Mas que fator é esse que predispõe ao sucesso, com uma freqüência tal que é excluída a possibilidade de simples coincidência? É nesse quadro que surge a Teoria da Superioridade Racial (eugenia), hoje repulsiva, mas no passado bastante popular. Se a raça é, ou parece ser, uma característica compartilhada por múltiplas gerações de um mesmo povo, por que não atribuir a este fator o sucesso ou fracasso deste povo na história? Esta diferenciação aplicou-se, sobretudo, a brancos e pretos, os primeiros apresentados como senhores da civilização, os segundos como bárbaros primitivos, mas uma superioridade racial foi também apontada em relação a amarelos e índios, bem como judeus, mouros, ciganos, latinos e eslavos. Até o primeiro quarto do século XX essa era a idéia dominante e crença do cidadão comum. Expressar esta opinião era, então, ser moderno, "científico" e avesso a crenças supersticiosas (antes dessa época os europeus costumavam fundamentar sua superioridade em razões místicas, como afirmar que os índios "não tinham alma", ou que, sendo cristãos, teriam sido "escolhidos por Deus"). Entretanto, jamais se provou cientificamente a superioridade de uma raça sobre a outra, e o próprio conceito de raça é posto em dúvida por alguns cientistas (todos os humanos pertencem à mesma espécie, e os caracteres raciais são secundários). O trauma que se seguiu ao nazismo e ao massacre de populações inteiras na segunda guerra contribuiu para anatematizar de vez, entre os pesquisadores éticos, a pseudociência da eugenia, que não desapareceu em definitivo mas tornou-se terreno de charlatões. Um outro fato também desmente esta teoria: os países que hoje se incluem no grupo dos ricos já foram, alguns séculos atrás, lugares acanhados e periféricos. A Europa de 600 anos atrás, por exemplo, era inferior econômica e culturalmente ao mundo árabe e à China. Se existisse uma superioridade racial, ela deveria ter se manifestado durante toda a história, pois em tese, a raça não muda com o tempo.

Há também os que creditam a riqueza e a pobreza das nações, não a fatores humanos, mas a fatores meramente físicos e geopolíticos: o clima, a topografia, a produção mineral, a localização estratégica de portos e cidades, o domínio de rotas comerciais. Cresceriam economicamente os povos que tivessem a sorte de ter estes fatores a seu favor; quem não tivesse, estaria condenado ao atraso, não importa o que o povo fizesse ou deixasse de fazer. Então, as pessoas não seriam mais que formigas em um formigueiro, e tudo dependeria de fatores físicos externos e incontroláveis? Bem, há casos e casos. Quinze séculos antes de Cristo, a civilização minóica, na ilha de Creta, era a mais notável do Mediterrâneo, como comprovam os relatos e os achados arqueológicos. Em 1.470 a.C., o vulcão da ilha de Thira explodiu, produzindo um maremoto que arrasou o centro da civilização minóica, localizado a apenas 100 quilômetros de distância. Temos aí um exemplo de que a derrocada de uma civilização deveu-se a fatores inteiramente naturais - mas trata-se de um caso extremo. Os fatores naturais influenciam, sem dúvida, mas o exame mais atento mostra que seu alcance não é tão grande quanto se pensa. Um bom exemplo é a questão do clima: uma rápida olhada no mapa-mundi mostra que não existe absolutamente nenhum país rico situado entre os trópicos - e cumpre notar que os trópicos compreendem uma região imensa, com uma variedade enorme de ambientes e culturas. Parece lícito atribuir este contraste ao clima, que aparentemente beneficiaria as populações do norte, de clima mais frio. E de fato, na Europa Ocidental, este gradiente clima X riqueza é tão flagrante que pode ser notado até dentro das fronteiras de um mesmo país - seja o napolitano ou o milanês, o catalão ou o castelhano, o inglês ou o escocês, o bávaro ou o prussiano, um estereótipo se repete: o habitante do norte é sempre mais rico que o sulista, e ao mesmo tempo é visto como mais sério, diligente e dedicado ao trabalho. Se, no entanto, o eixo norte-sul for trocado pelo eixo leste-oeste, o padrão é rompido. A Europa Oriental é mais fria que a ocidental, e aplicando-se a lógica, deveria ser, também, mais rica. No entanto, é mais pobre - e isto já ocorria antes dela ser anexada à cortina de ferro. O exemplo da Europa Oriental invalida de forma cabal a teoria que vincula frio e riqueza, mas isso quase não é notado, pois o fenômeno tornou-se extraordinariamente familiar nos últimos séculos: com o domínio mundial europeu, os colonos escolheram para povoamento as terras onde o clima era semelhante àquele que estavam acostumados, e relegaram as terras mais quentes próximas ao equador a monoculturas baseadas em trabalho escravo - e desta forma, o contraste norte-rico-sul-pobre foi exportado para o planeta inteiro.

Mas esta questão merece ser melhor examinada, pois parece ocultar uma explicação que pode ser a chave do que estamos procurando. Por que, a partir do século XVII, a Europa setentrional começou a tornar-se mais rica, se até então a Europa meridional tinha sido o local onde estavam o comércio, as idéias e os banqueiros? O que teria mudado?

A melhor explicação foi a apresentada pelo cientista social Max Weber, ao publicar, em 1904, o ensaio intitulado "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", obra hoje em dia meio esquecida e alvo de furiosas refutações. Weber identificou no protestantismo, em especial suas ramificações calvinistas, a base da ascensão do capitalismo moderno. As atividades comerciais e bancárias tinham severas restrições sob o catolicismo, mas eram permitidas aos protestantes e judeus. Isto já era sabido, mas Weber apontou um fator ainda mais importante: a ética protestante. As diferenças entre catolicismo e protestantismo, em seus aspectos puramente teológicos e vistos por uma ótica leiga, parecem uma coleção de trivialidades: se Cristo estaria ou não de corpo presente na eucaristia, se a Virgem Maria deveria ou não ser objeto de culto, se a salvação depende da fé ou das obras, se o culto aos santos é ou não idolatria. Mas os aspectos éticos e morais, derivados da nova crença religiosa, acabaram surtindo efeitos não-planejados no comportamento e no destino de seus adeptos. A ética protestante favorecia o trabalho perseverante, a honradez nos negócios e a poupança, e condenava todo ganho que não fosse derivado do trabalho. A boa situação financeira era vista como uma recompensa divina ao justo, e a pobreza material era vista como um sinal de pobreza moral. Os calvinistas eram parcimoniosos e vestiam-se de maneira austera, muito embora fossem mais ricos que a média dos cidadãos. Os protestantes traduziram a bíblia do latim para as línguas faladas na época, e encorajaram a alfabetização, para que todos pudessem ler a bíblia. A tese de Max Weber é: o protestantismo não só criou uma nova religião, mas também uma ética de comportamento cotidiano que conduzia ao sucesso nos negócios pessoais. Enfim, não moldou meia-dúzia de líderes políticos ou religiosos, mas toda uma massa de cidadãos anônimos, tornando-os mais produtivos, austeros e libertos dos preconceitos morais que incidiam então sobre as atividades comerciais. O efeito, a longo prazo, desta nova conduta de milhões de cidadãos, viria a ser o enriquecimento das regiões onde eles preponderavam - muito embora promover o enriquecimento e a justiça social jamais houvesse sido o objetivo original dos reformadores protestantes. O protestantismo implantou-se na Europa ocidental, especialmente ao centro e ao norte - e foi este, e não o clima, o motivo de serem estas regiões mais ricas que as outras.

Se há um ponto de inflexão entre a queda da Europa católica e a ascensão da Europa protestante, este ponto se encontra no ano de 1633, mais precisamente no dia em que Galileu Galilei compareceu perante o Santo Ofício para retratar-se de sua teoria herética, que afirmava que a Terra não era imóvel, mas girava em torno do sol, supostamente contrariando as sagradas escrituras. Em que grau este acontecimento específico alterou o mundo de então? Na verdade, em grau nenhum. Para a esmagadora maioria dos contemporâneos de Galileu, o caso de a Terra ser imóvel ou girar em torno do sol era uma questão teológica que não lhes dizia respeito, e a condenação de Galileu não afetou a vida nem os negócios de ninguém. O caso, entretanto, é emblemático: ficava patente a oposição da Igreja Católica à ciência e à aquisição de cultura em geral, e isso viria a ser desastroso para uma era em que o sucesso comercial tornava-se cada vez mais vinculado ao aprendizado de técnicas, ao espírito crítico e à inventividade (muito embora ninguém fosse capaz de prever isso no tempo de Galileu). A união final entre Ciência e Técnica - isto é, o nascimento da Era Tecnológica propriamente dita - só seria concretizada ao final da Revolução Industrial, na última década do século XIX, com a criação de uma equipe permanente de cientistas assalariados pela indústria química alemã (antes disso não havia qualquer relação óbvia entre Ciência e Técnica; a primeira era restrita aos meios acadêmicos, e a segunda consistia de um conjunto de conhecimentos empíricos passados de geração em geração pelas guildas de artesãos). Esse processo, contudo, já se encontrava em curso desde a invenção da imprensa no século XV. Prosperavam os países que tinham população mais educada, mais livros circulando, mais produção e disseminação em larga escala de conhecimentos vários - ou seja, prosperavam os países protestantes.

Ainda assim, a idéia de que a mera atitude de milhões de cidadãos anônimos possa moldar o futuro e alçar seu país à liderança - seja tecnológica, econômica, militar - é repudiada por muita gente. Compreende-se: isto implica reconhecer que os hábitos culturais de outros são "superiores" aos seus próprios, que uns estão certos e outros errados, que existem vencedores e perdedores. Mas como pode uma cultura ser superior a outra? Como reles hábitos da vida privada podem gerar a longo prazo conseqüências macro - políticas, econômicas? Segundo os adeptos do relativismo cultural, teoria muito em voga nos dias de hoje, e que veio de carona com a mania do politicamente correto, não faz qualquer sentido comparar duas culturas, pois não há parâmetros para comparação. O que é "superior", tomar café ou chá? Comer com garfo ou com dois pauzinhos? Rezar a Jesus ou a Maomé? Comer carne ou vegetais? Eu concordo que, para a esmagadora maioria dos casos, não há mesmo qualquer termo de comparação entre costumes que não são nem melhores nem piores do que outros, apenas diferentes. Mas existem determinados hábitos e crenças que produzem, sim, conseqüências a longo prazo. O único termo de comparação que deve ser aceito é: se um costume tende a ser adotado por comunidades que antes o repudiavam, então este costume é de fato superior, no sentido que produz vantagens visíveis a quem o pratica. Apenas um exemplo: séculos atrás os cristãos na Europa não tinham o costume de tomar banho, então considerado hábito ruim e pecaminoso, enquanto que os judeus e muçulmanos tomavam banho regularmente por prescrição religiosa. Se hoje em dia ninguém duvida de que a higiene é essencial, então temos que admitir que o hábito cultural de lavar-se é superior ao hábito cultural de permanecer sujo.

Outra objeção feita à influência da cultura como fator determinante do futuro é que, sendo os hábitos culturais restritos à esfera da vida privada, eles não podem surtir conseqüências macro - isto é, não podem transparecer na esfera da vida política e econômica de sociedades inteiras. Eu afirmo o contrário, e citarei um exemplo. No século XVI, o império otomano era a principal potência européia, o estado mais sólido em um continente onde os estados-nações mal começavam a se constituir. Mas sofria de um problema grave - as guerras de sucessão. Explica-se: a religião muçulmana permitia a poligamia, e os sultões tratavam de ter muitas esposas e filhos, como forma de garantir que sucessores não faltariam. Mas como apenas um deles podia assumir o poder, cumpria-lhe a tarefa de matar os irmãos. Desnecessário dizer que isso implicava em uma guerra a cada vez que morria o soberano, com conseqüente desgaste para o reino e desafogo para os países cristãos ameaçados pelo poderio dos otomanos. Um sultão tentou achar uma solução para o impasse, e determinou que, a partir de então, não se mataria mais os príncipes que não fossem herdeiros do trono - ao invés disso, eles seriam confinados em uma sala do palácio (a sala existe até hoje no palácio Topikapi, em Istambul). E assim foi feito. Quando ele faleceu, o filho mais velho foi entronado, e seus irmãos foram confinados. Mas o novo herdeiro viveu pouco tempo, morrendo sem descendentes, e foram buscar o segundo na sucessão na sala onde se encontrava preso junto com os irmãos. Até aí tudo bem. Só que o rapaz, em razão do longo confinamento, tornara-se demente. Seu reinado foi um desastre, assim como seria o de vários que vieram em seguida, precipitando a decadência do império otomano. Aí está um exemplo em que um costume (a poligamia), embora do âmbito da vida privada, teve conseqüências políticas bem palpáveis. Aliás, o maior sultão da história turca, Solimões o Magnífico, foi (não coincidentemente) o único de todos que era filho único.

Acredito firmemente que é a cultura o fator determinante do sucesso e do fracasso das nações. Houve no passado o exemplo dos protestantes, cuja ética conduziu-os à prosperidade, e nos dias de hoje temos o exemplo do confucionismo, que está por trás da arrancada econômica dos países asiáticos conhecidos como "tigres". A ética confucionista é, não coincidentemente, bastante análoga à ética protestante: também favorece o trabalho árduo, a parcimônia, a honradez, a poupança. O índice de poupança dos habitantes de Taiwan e Coréia é da ordem de 25% da renda, enquanto entre nós não passa de 10%. Pode-se dizer que nos dias de hoje eles já dispõem de uma situação financeira mais folgada, que lhes permite poupar. Mas este nível de poupança já ocorria desde os anos 60, época em que todos os países asiáticos hoje emergentes eram muito mais pobres do que a América Latina. Pode-se afirmar, sem erro, que esse pendor para a poupança é algo inserido na cultura dessa gente, e não uma decorrência de uma situação favorável. É aí que a cultura faz a diferença. Outro motivo que me faz crer na supremacia do fator cultural é que esta é a única explicação para o fato de que, mesmo com percalços, o mundo está mudando para melhor, certos erros do passado não são reeditados no presente, e bem ou mal existe hoje uma consciência crítica bem mais aguçada, que faz com que os crimes perpetrados por um governante local sejam alvo de julgamento internacional, e as instituições reconhecidamente benéficas, criadas por um conjunto de nações, sejam copiadas por outros povos. Não seria esse o quadro em um mundo onde houvesse raças superiores, e todo o destino do indivíduo fosse determinado por sua embriologia; nem seria assim em um mundo onde os cidadãos fossem simples massa de manobra, e todo o destino das nações fosse determinado pelas sortes e azares dos grandes líderes; tampouco seria assim em um mundo onde o trabalho e o estudo não valessem nada, e toda a prosperidade fosse determinada pela posse de jazidas minerais, o domínio de portos estratégicos e o controle sobre rotas comerciais. A preponderância do fator cultural cria um eixo e confere um sentido à evolução da humanidade: nem as pessoas nem as culturas são equivalentes; uns tem mais sucesso e outros fracassam, uns perdem e outros ganham, uns são repudiados e outros são copiados. A capacidade de reconhecer e adotar aquilo que, embora alienígena, é melhor, mais justo ou mais eficiente, determina quem vai progredir e quem vai estagnar. Difícil mesmo é reconhecer que o vizinho pode ser melhor do que você...

 

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